Michael Winterbottom é um individuo muito interessante. Tem uma filmografia bastante eclética, mas, pelo menos nos seus últimos filmes, tem estado debruçado sobre os drama/documentários. 24 Hour Party People, 9 Songs, Tristram Shandy: A Cock & Bull Story e The Road To Guantanamo, são todos exemplos da mistura que o realizador faz de reconstruções documentais de acontecimentos que aconteceram. Mas, se 24 Hour Party People e Tristram Shandy: A Cock & Bull Story são num tom de comédia (hilariantes, diga-se de passagem), The Road To Guantanamo é um assunto sério que também merece a nossa atenção. The Road To Guantanamo A história de um grupo de 3 britânicos muçulmanos, que foram levados para a prisão de Guantanamo, aonde foram mantidos durante dois anos e de onde acabaram por ser libertados sem qualquer acusação. Uma narração dura e pouco dada a mal entendidos é o que o realizador nos trás, um verdadeiro murro no estômago. E, se pensamos que a acção já está a ser incómoda o suficiente, esperam até chegarmos à prisão propriamente dita. Verdadeiras condições sub-humanas onde os prisioneiros são sujeitos a abusos físicos, mas, principalmente, psicológicos. Este é daqueles filmes que nos faz pôr a mão na consciência. Que nos faz pensar que raio de mundo é este aonde vivemos, que sociedade ocidental é esta que tanto defendemos. Não seremos nós uma sociedade tão tirana como as outras, apenas disfarçados por uma falsa liberdade e uma democracia em decadência? Michael Winterbottom é um realizador exímio, que toca nos sítios certos e cria uma grande empatia com o seu público, quer seja numa drama ou numa comédia. 
A minha classificação é de: 8/10 Tristram Shandy: A Cock & Bull Story Mais uma vez, o drama/documentário e, tal como 24 Hour Party People, Steve Coogan no principal papel. Uma tentativa de adaptar The Life and Opinions of Tristram Shandy, Gentleman, que não falha, porque nunca chega sequer a ser tentada. É o chamado filme dentro do filme, em que os actores usam os nomes próprios e estão em filmagens da adaptação do livro. O realizador escolhe uma abordagem diferente, contando-nos a história do livro (ou segmentos curtos) através dos actores que vão encarnar os personagens. O resultado é uma comédia recheada de ironia, sem piadas fáceis, muito pelo contrário. O argumento é de uma inteligência sarcástica, deixando-nos sempre na expectativa do que virá a seguir e, mesmo quando não vem mais nada, não conseguimos deixar de sorrir pela forma como fomos tão bem "enganados". Steve Coogan é fantástico, mais uma vez. Tem, definitivamente, o carisma de um protagonista, conseguindo levar-nos numa viagem de emoções sem nunca nos cansarmos de o ver. Destaco também Gillian Anderson que, apesar do seu pequeno papel, tem uma cena fantástica na qual, por mais que tentemos, não conseguimos sequer vislubrar vestígios de uma Scully. Um verdadeiro alívio poder rir sem ter de levar com o Will Farrel ou o Adam Sandler. Sem ser uma comédia romântica ou um teen movie. Rir com vontade e com gosto. Rir porque a comédia é uma arte. Ainda que já ninguém se lembre disso. 
A minha classificação é de 8/10 Etiquetas: Criticas |